segunda-feira, 19 de março de 2012

Por Causa do Gonçalo, do Senhor Eliot, da Zero

"Esse poderia ser um livro de teoria literária, mas não é. Poderia ser de crítica também, mas também não é. Ou será? O que é então? Não sei bem e tenho impressão de que se me meter a explicar o que é senhor Eliot e as conferências, corro o risco de cair numa armadilha e virar uma caricatura do personagem do Gonçalo M. Tavares.
Explico: claro que posso dizer o release, o evidente: o livro é o décimo volume da coleção O Bairro (que tem os senhores Valéry, Brecht, Calvino, Walser e outros)."

Suposto, esse é o início do meu texto que saiu no Caderno Cultura da ZH do último sábado. É sobre o livro O senhor Eliot e as conferências, do Gonçalo M. Tavares, que foi lançado no Brasil pela Casa da Palavra. Se quiser ler todo o texto, clica aqui embaixo na matéria. Se quiser ler o livro, corre. Recomendo.



terça-feira, 6 de março de 2012

Por Causa da Igualdade de Trapézios

Olha, sou um sujeito contemporâneo, atento ao mundo, lavo louça, faço a cama, cozinho, esfrego panela e limpo a privada. Por isso – e não só por isso – sei que falar em igualdade entre homem e mulher, ficar discutindo homo, hétero, simpatizante, bi, tri, tetra, é bobagem.

Talvez nem passe por aí o que me vem à cabeça, talvez não seja questão de igualdade, se bem que sim, é questão de igualdade demais, a coisa foi longe, muito longe. Depois de as mulheres conquistarem o seu lugar no mercado de trabalho, conquistarem seu lugar na política, conquistarem o seu lugar de bandeirinha na beira do campo, parece que elas romperam a barreira definitiva: conquistaram o seu lugar na máquina de supino.

Se o Suposto Leitor não percebeu, sim, estou falando do novo padrão de (e vá aspas aí) beleza da brasileira. Acho que foi a cobertura dos sites de notícias com fotos e mais fotos das (capricha nas aspas, por favor) musas do carnaval, associado à constante presença das sisters do BBB – acho hediondo usar essa expressão – nos mesmos sites que me fizeram pensar nisso. De Panycat a BBB, de mulher de pagodeiro a dançarina do Faustão (além de um horizonte de expectativa bastante limitado) o brasileiro médio está sendo dominado (com um armlock bem dado) por um monte de músculos.

Sério, sou do tempo em que mulherão tinha curvas. Não músculos. Era violão, não contabaixo acústico.

Cada vez que vejo uma nova gata funkeira, ajudante de palco ou ex-alguma-coisa despontar nas fotos das mídias dedicadas às celebridades que se descuidam e mostram demais ou ignoram paparazzis e curtem praia à vontade, penso que, depois das popozudas, das peitudas, estão surgindo, aliás, já surgiram, as paletudas. Chego a temer que as próximas beldades brasileiras não sejam mulher-fruta, mas, sim, Jéssica Stallone, Vera Van Dame e Katia Vin Diesel (imagina a Sara Steven Seagal). Não sei o que sociólogos, psicólogos, biólogos dirão sobre esse fenômeno, mas parece um processo avançado de pós-igualdade entre os sexos. Se los machos podem ser metrossexuais, elas podem ser halterossexuais. Ou, até então, siliciones, regimes, curvas, eram sujeição ao gosto masculino. Agora não. Vamos sujeitar eles nem que seja no muque. Sério. Esses dias, no setor (importantíssimo setor, está em todos os sites de notícias do país) dedicado ao que de mais relevante (além dos bíceps, tríceps e quadríceps) aconteceu no Big Brother, pois um dia desses tinha uma manchete engraçada ali e resolvi ver o vídeo. Não sei o nome das moças que participavam da cena, mas elas vinham caminhando com suas montanha de músculos e, sério, o molejo, o rebolado, a malemolência, era de um troglodita. Aquela coisa homem porradão de cintura fina, que tem que caminhar fazendo força pra, além de exibir toda a musculatura, conseguir equilibrar os ombros que devem pesar mais que todo o resto do corpo. Sabe, vem balançando, como se tivesse uma mola na cintura e o resto todo fosse feito de concreto? Baixei o áudio do vídeo e fiquei imaginado que aquelas gatinhas deviam trocar assuntos e confidências femininas como “E aí, mano, qualé a treta?”, “Porra, brother vô partir a cara daquela maluca” e “Se liga, Mané, vamo tomá uma breja, quando eu terminar esse carburador?”.

E essas lindezas - além de siliconadas, agora anabolizadas - são um perigo pro equilíbrio social. O mercado de joias, por exemplo. Com o crescimento dos pescoços e braços vai provocar uma aumento da demanda de matéria-prima, inflação. Um colar delicado pra essas moças tem que ser uma corrente de bicicleta de ouro. Se não nem fecha. Se bem que joia é coisa de mulherzinha.

E assim a cadeia da meiguice é toda afetada: desisti das joias e comprei flores e um pote de mega mass. Ao entregar o mimo, posso dizer "pra minha bonequinha"? Só se for do Falcon.

Sem falar nas questões psicológicas. Como o macharedo vai resolver seu complexo de Édipo com esse perfil de beleza? Pro cara conseguir projetar a mãe nesse tipo de mulher, tem que ter sido amamentado pelo Schwarzneger.

Não, a coisa é muita séria. Esses dias vi que já temos inclusive as musas do MMA, UFC. O Vale Tudo. É vale-tudo mesmo, amigo. Vou confessar que nem a mais mórbida curiosidade me permitiu abrir notícias sobre esses brotinhos. É que, sei lá, daqui a pouco se o cara começa a admirar essas formas, vai começar a fantasiar com as coxinhas do Roberto Carlos (aquele que abaixou pra ajeitar as meias em 2006) ou, por que não, com o bibelôzinho da Edinancy.

Sei lá, se o Pepeu dizia que ser um homem feminino não fere o lado masculino dele, acho que essas mulheres masculinas ferem um pouco a sua feminilidade – pelo menos como eu concebi. Claro, vivemos numa democracia, as mulheres tem o direito de fazerem o que quiserem. Mas os homens passam a ter o direito de, se numa balada uma mulher vier balançando os trapézios, exibindo os bíceps, naquele flanar sensual de estivador, o homem passa a ter o o direito de correr. Ou dizer que saiu pra dançar.

Pobre Vênus. Está sendo trocada por um novo ideal de beleza grega: a mulher apolínea. Mas vou parar de falar, que eu tenho que lavar a louça.